Entenda tudo sobre a tosse alérgica
"Irritação das vias respiratórias é mais frequente nos meses de baixa temperatura. Mas nem toda tosse seca é sinal de alergia. Aprenda a identificar possíveis problemas e a melhor forma de tratá-los"
Todo ano o o “cof cof” da tosse alérgica aparece. Aos poucos é possível ouvir alguém com uma crise de tosse no horário do almoço, na sala de cinema ou no ônibus. Sim, realmente é muito desagradável não conseguir parar de tossir ou não ter como ajudar uma pessoa com o sintoma. Mas, segundo o pneumologista Mauro Gomes (SP), a tosse é um mecanismo de defesa do organismo e serve para expulsar qualquer elemento que esteja irritando ou tentando entrar nas vias respiratórias.
Entre esses elementos os mais comuns são: poeira, fungos, pelos de animais, pólen, cosméticos, perfumes, produtos de limpeza ou a poluição do ar. E é verdade que nem toda tosse é apenas uma alergia: ela pode ser um alerta para outros problemas de saúde, tanto das vias respiratórias quanto do sistema digestivo.
Quem é mais suscetível?
Pessoas de todas as faixas etárias podem estar sujeitas a esse quadro de tosse, porém pacientes portadores de algum tipo de alergia, quando expostos a poeira, ácaros domiciliares, pelos de animais, variações bruscas de temperatura ou poluição ambiental podem desenvolver o sintoma de forma persistente, explica o pneumologista Mauro Gomes.
O histórico de tabagismo também contribui para o sintoma. Já a tosse, quando associada ao exercício, durante uma conversa ou exposição ao ar frio é frequentemente consequência de asma ou doença pulmonar.
Que tipo de tosse é a sua?
Alexandra Sayuri Watanabe, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI-SP) explica que 90% dos casos de tosse estão divididos em três grupos. “O primeiro está ligado à asma e a síndromes relacionadas; o segundo, à doença do refluxo gastroesofágico; e o terceiro é constituído por patologias das vias aéreas superiores, como rinites e sinusites”, diz. O último grupo corresponde a 30% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E 10% restantes do total de pacientes como sintoma podem ser diagnosticados com fibrose pulmonar, bronquiectasias, que se caracterizam pelo alargamento ou distorção dos brônquios, tuberculose e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Com ou sem secreção
Para diferenciar uma tosse da outra, a médica explica que a do tipo alérgica ocorre quando o sintoma dura mais de oito semanas e é classificado como tosse seca, ou seja, sem a presença de catarro. “Já a tosse comum normalmente ocorre após uma infecção da via aérea, como gripes”, esclarece Alexandra. Ainda sobre a tosse alérgica, Mônica Menon, otorrinolaringologista e especialista em alergia e imunopatologia (SP), diz que o sintoma pode vir acompanhado de coriza ou obstrução nasal.
Basta diagnosticar
O histórico do paciente, com relato dos momentos nos quais a crise de tosse aparece, tem grande importância durante a consulta. “Diferenciar uma tosse alérgica de outra causa pode ser muito difícil. Por isso essas informações ajudam na investigação”, explica o pneumologista Gomes.
Exames complementares também podem ser solicitados, como radiografia do tórax e dos seios da face, dosagem de anticorpos alérgicos no sangue, provas de função pulmonar – espirometria. “Caso não apontem uma causa, há testes mais invasivos, como tomografia de tórax, broncoscopia (endoscopia da árvore brônquica), endoscopia digestiva, pH-metria do esôfago de 24 horas (que avalia a presença de ácido no estômago) e manometria (analisa o funcionamento do esôfago)”, completa.
É preciso tratar a causa
“Não existe tratamento específico para a tosse e sim para a doença que está causando o problema”, explica Gomes. No entanto, quando a tosse persiste por várias semanas ou meses, torna-se um problema de saúde incapacitante que pode levar à perda de sono, dor muscular, costelas fraturadas, síncope, incontinência de esforço e vômitos.
Porém as pessoas, na esperança de que o sintoma desapareça, adotam hábitos caseiros para amenizar o desconforto e se automedicam sem pensar nas consequências disso.
Entre essas estratégias, destacam-se chupar uma bala durante uma crise insistente, beber um copo de água ou ainda misturar leite com mel, substância famosa por proteger as mucosas da garganta e melhorar a irritação. Entretanto, os médicos alertam: é preciso descobrir a causa do problema antes de qualquer intervenção.
“Xaropes ou misturas com mel, por exemplo, podem agravar a situação caso a tosse seja por refluxo”, fala Gomes. “Já alguns xaropes vendidos sem receita podem possuir componentes que provocam alívio, porém apresentam efeitos colaterais no sistema cardiovascular ou nervoso”, completa o pneumologista.
Conselho médico
Para tratar o desconforto, a diretora da ASBAI, Alexandra, ressalta a prescrição de corticoides inalatórios (spray nasal e oral) e antialérgico para aliviar os sintomas. Outra indicação é “ingerir bastante líquido, e caso o problema decorra de asma, broncodilatadores devem ser usados. As inalações também podem ser utilizadas para hidratar a via aérea”, acrescenta.
Quanto aos xaropes antitussígenos, Alexandra explica que eles bloqueiam o reflexo da tosse. “Mas assim que se suspende o medicamento, os sintomas podem retornar.” Como a tosse alérgica depende de fatores externos, Mônica ressalta a importância de manter o controle ambiental e das condições que lhe causem alergias.