Queimaduras: risco e prevenção
Queimaduras representam um sério problema de saúde pública e seus números têm adquirido contornos cada vez mais alarmantes. Estima-se que, a cada ano, mais de um milhão de pessoas sejam vítimas de queimaduras em todo o Brasil. índices que podem ser muito maiores dada a precariedade do atual sistema de coleta de informações no País.
Uma estrutura pobre de atenção e recursos do sistema de saúde contribui para agravar ainda mais a qualidade de atendimento dos pacientes. A situação é crítica, mas poderia ser ainda pior, se não houvesse a colaboração de instituições sem fins lucrativos, que fazem de tudo para ajudar, apesar das limitações e das críticas enfrentadas.
Segundo dados do Ministério da Saúde, durante toda a fase de desenvolvimento das habilidades motoras de uma criança, a possibilidade de acidentes com queimaduras está sempre presente. De um a quatro anos, por exemplo, a queimadura ocupa o sexto lugar como causa de morte. De cinco a nove anos, assume a quinta posição e a segunda, se considerarmos o número de hospitalizações de crianças de um a quatro anos, perdendo apenas para os acidentes com quedas.
Entre cinco e nove anos de idade, a queimadura é o quarto motivo das internações com sequelas estéticas e motoras graves que, além de desfigurar, atrapalham o desenvolvimento social e intelectual, pois dificultam o convívio com outras crianças e a possibilidade de frequentar a escola.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 320 mil crianças morrem anualmente por essa causa. Números impressionantes, especialmente se considerarmos que, na maioria das vezes, são acidentes que ocorrem em nossas próprias casas por descuido e que, portanto, poderiam ser evitados.
Ainda muito usado nos lares brasileiros para fins de limpeza e desinfecção, o álcool líquido é um dos grandes responsáveis pelos acidentes domésticos com queimaduras. Existe a ideia de que álcool líquido é o melhor produto para limpeza, o que está errado. Se o desejo é desinfetar, o álcool gel é mais eficiente. Graças à sua consistência, a versão em gel não evapora (sai) rapidamente da superfície em que foi aplicado. Desse modo, age por mais tempo e limpa mais, mesmo com graduações mais baixas que o tradicional 92º. O mais importante, porém, é que oferece reduzidíssimo risco de explosão. Por essas são razões, ele é adotado nos hospitais.
Vale lembrar, ainda, que não são apenas as crianças as vítimas de queimaduras por álcool líquido: adultos também se queimam durante as atividades do dia a dia, ou nos fins de semana,quando vão acender a churrasqueira, por exemplo. Como se vê, consumir álcool em gel representa um benefício também para os mais velhos.
Em 2002, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou a substituição do álcool líquido de alto teor pelo álcool em gel. A resolução, de número 46, entrou em vigor, mas foi barrada logo em seguida por meio de liminares a pedido da indústria sucroalcooleira, das usinas de álcool e das indústrias de envasamento (embalagens).
Em São Paulo, a Assembleia Legislativa aprovou o Projeto de Lei 659/2002 , que proíbe a venda do álcool líquido. No entanto, o mesmo foi vetado pelo governador por razões, segundo consta no veto, técnicas.
Uma simples lei ou apenas a mudança de um hábito não só diminuiriam os custos dos tratamentos, tanto na fase aguda quanto na de cuidados com as sequelas das queimaduras, como representariam enorme benefício para a saúde da população em geral.
Em 6 de junho de 2009, Dia Nacional da Luta contra a Queimadura, a Associação Médica Brasileira (AMB), a Associação Paulista de Medicina (APM), a ONG Criança Segura, a Pró-Teste e a SBQ – Sociedade Brasileira de Queimaduras – externaram sua indignação pela venda do álcool para uso doméstico – líquido ou gel – ao consumidor brasileiro. O movimento deu origem à Frente Nacional de Combate aos Acidentes com Álcool e preparou um abaixo-assinado com o qual pretende sensibilizar o legislativo e o judiciário para aprovar a proibição da comercialização do produto.
Da mesma maneira, em conjunto com a International Society for Burn Injuries (ISBI), a Organização Mundial de Saúde instituiu um programa internacional (Geneva, 2008) com o intuito de desenvolver políticas de prevenção especialmente nos países em desenvolvimento. Esse plano pretende catalisar esforços para a prevenção e melhorias no cuidado das vítimas de queimaduras.
É preciso a união de todas as organizações e pessoas envolvidas nessa luta para formar uma frente de combate à desinformação e em prol da saúde, especialmente da população jovem que é a mais atingida por esses acidentes.
Queimaduras podem ser evitadas. Esse é o melhor tratamento.
Fonte : www.drauziovarella.com.br